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Uma pomba meditando no seu destino

  • Onofre Santos
  • 27 de abr. de 2017
  • 2 min de leitura

Quando em 1992, o traço inspirado de Henrique Abranches poisou uma pomba branca numa urna eleitoral, o que passaria pela sua cabecinha arrulhante?

Há um filme de Roy Andersson chamado "um pombo pousado num ramo meditando sobre a sua vida...." que conta a história de dois homens, Jonathan e Sam vivendo na mesma casa, cansados do quotidiano de morte e da inevitabilidade do sofrimento... uma sucessão de situações fora do normal retratando a existência em toda a sua grandeza e pequenez, beleza e tragédia, exagero e tristeza – com "uma visão panorâmica, como se fossem contadas por um pássaro a reflectir sobre a condição humana”.

No estúdio do velho arqueólogo, escritor e pintor, conversámos sobre o o desenho simbólico das primeiras eleições: cansados da guerra os homens chamaram a pomba que depois do dilúvio trazia no bico um raminho de oliveira, agora com um boletim de voto como o sinal de fazer calar as armas e deixar falar o povo. Sem água no bico... Contudo, muito deve ter reflectido aquela pomba em algum galho onde terá procurado abrigo, alvoroçada pelos tiros que inesperadamente voltaram a ser disparados-

Foi preciso esperar por 2008 para se voltarem a realizar eleições, já em em tempo de reconciliação nacional, o que de certo modo explica que a pomba de Henrique Abranches tivesse ido parar ao álbum de recordações. O mesmo em 2012. "Lá vai uma, lá vão duas, três pombinhas a voar... tenho sete namorados e não gosto de nenhum..." Os miúdos, como sempre, percorriam as ruas cantando... Ficava no ar um misto de euforia e insatisfação que se enrolavam como espiraIs de um fumo sacrificial. Ninguém liga à cantoria mas as crianças são o futuro. Assim pensa a pomba no seu refúgio. Ayué democracia.... as eleições já não são para fazer a paz mas para consolidar, legitimar e ditar a lei do mais forte. A paz, como reza a Constituição não é mais o raminho de oliveira porque "tem como base o primado do direito e da lei e visa assegurar as condições necessárias à estabilidade e o desenvolvimento do País". Poisada no seu galho, a pomba deve meditar como são diferentes, nas suas perspectivas, expectativas e imprevisibilidade, as eleições de 2017! Agora, uma pomba mecânica com os mais modernos controlos electrónicos, realizará o seu voo sobre as assembleias de voto, um voo que se espera de perfeição, para ir pousar tranquilamente num computador auditado de alto a baixo e no qual os partidos hão-de pôr toda a sua complacência. Também é justo, deve reflectir a pomba, abrindo as asas como se nos quisesse abraçar a todos e sentisse que nestas eleições, a paz, como em 1992 continua a ser a necessidade de aproximar todos os cidadãos. Também ela foi ganhando novos nomes... já foi o outro nome de desenvolvimento, hoje é o outro nome da misericórdia. A pomba sacode a cabeça para trás e para a frente e arrulha... O nome da paz é a memória... pensa!

s e deixar falar o povo. Há um filme de

 
 
 

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