Papeis trocados

Tuc tuc na minha janela, este passarinho veio me visitar, as bicadas na vidraça bem poderiam ser a sua maneira de me cumprimentar ou a maneira de me perguntar se o não convidava a entrar... ele já deve ter-se apercebido de que as coisas já não são o que eram na última primavera!

Agora sou eu que estou na gaiola e ele tem todo o céu deste mundo para viajar e voar!

É claro que este passarinho saiu da casca há muito pouco tempo, no ano passado era outro a voltear por aqui, tão igualzinho que eu não os distinguiria, mas este sabe por instinto que a salvação também está em manter as distâncias. Não me encontrou a passear por aí, a mim e a muitos outros, hoje a rua está deserta e os passarinhos novos vão descobrindo os humanos de outra forma, com outra curiosidade. Como agora se diz por aí que a partir de agora tudo vai ser diferente também ele poderá acreditar que seremos nós pássaros de asas cortadas, ou uma nova espécie em cativeiro. Pela minha parte vou continuar de asas encolhidas até uma próxima estação em que nos voltemos a encontrar e a voar juntos por aí.