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Um perfume de Paris

  • Onofre Santos
  • 4 de mai. de 2017
  • 3 min de leitura

Anda no ar um perfume de Paris, uma mistura de odores, doce e amargo, que traz à lembrança amores do passado dançando ao sabor do vento, como folhas mortas no Outono. No entanto, é quase cacimbo em Angola e quase Verão na pátria de Verlaine onde pequenos papeis se agitam nas mãos trementes dos eleitores ao serem depositados nas urnas, no exercício fútil de espantar o medo. Dentro de poucas horas elas se abrirão como casulos, libertando borboletas que vão fazer manchete em todos os jornais do mundo e Luanda não será excepção. Onde um processo finda, a meia dúzia de milhares de quilómetros outro processo começa... mas a distância no tempo e no espaço não apaga esse perfume agridoce que persiste como o pressentimento excitante da aproximação de uma mulher que ansiosamente esperamos ver chegar ou passar entre a multidão. É como um poema feito apenas de silêncio e inspiração, uma canção à espera de um intérprete lançando palavras ao vento, que toquem os corações e fiquem no ouvido.

Pouco importa quem vai vencer em França ou no Irão (também com eleições este mês de Maio), se ganha a mulher de extremos que quer fechar as fronteiras ou o ayatola mais condescendente que luta na surdina por mais abertura.... o que realmente interessa é que em menos de 80 dias, quando iniciar a campanha eleitoral, os partidos angolanos dirão sobre esse e outros temas. Porque em Angola, tal como em França, existe também uma unanimidade absoluta quanto ao desejo de fazer sair das eleições uma nação mais unida, mais forte e mais justa. Em terras gaulesas, contudo, vai um abismo para lá chegar, entre o que defende cada um dos dois candidatos. E ainda bem que assim é, porque é isso que torna a política necessária. E só por isso as eleições se tornam indispensáveis. Já o que as torna imprevisíveis, todavia, são os desejos previsíveis dos eleitores que ninguém melhor do que os políticos os adivinham. Compreende-se bem, portanto, que as campanhas sejam focadas na satisfação individual dos interesses de quem vai votar, como se o seu voto constituísse a contrapartida do que lhe foi pessoalmente prometido, ou entendido como tal. Todos querem, legitimamente, uma vida melhor, mas todos deviam saber que há limites constitucionais para os nossos desejos, com fundamento nos princípios da justiça e da igualdade. Por isso, os programas e as campanhas deveriam ser também, instrumentos e aulas de pedagogia, até mesmo de catequese de patriotismo. Todavia, esta instrução patriótica, acabaria sempre por implicar duas coisas que as pessoas, infelizmente, não gostam de ouvir: verdades e sacrifícios. Até aqui, o refrão eleitoral tem sido a melhor distribuição das riquezas... o que é sedutor, particularmente em tempo de vacas gordas. Em tempos mais difíceis, a razão e a moral aconselhariam mais em prometer (para depois cumprir) a melhor distribuição dos sacrifícios. O que naturalmente comporta riscos que dificilmente alguém irá correr.

No mínimo, no entanto, todos iremos saber quais as prioridades para cada força política, e o que cada uma tem na sua banca de promessas. Logo veremos se também é evidente a respectiva tabela de preços. Pregões é que não vão faltar durante 29 dias. Nem clientes ansiosos para comprar. Falta saber o quê e por quanto. Como em França e no Irão., o saberemos mais cedo, deixando esse perfume quase alucinante no ar.

 
 
 

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