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Um encontro improvável


"Senhor Presidente, está lá fora um jovem, é quase um menino, diz que é um príncipe não sei muito bem de onde, e desejava entregar-lhe uma mensagem muito importante para si e para o mundo..."

"E você não o mandou dar uma volta, ainda me vem incomodar num momento em que estou à espera de uma chamada prioritária? Não viu a luz vermelha?"

"Mas, Senhor Presidente, a porta estava aberta e não foi o senhor que me fez sinal com o dedo para avançar?"

"Sim, mas para me dizer alguma coisa que

eu precisasse de saber... vou estar ao telefone com uma pessoa super-importante... não percebeu? .... Mas quem diabo é aquele ali?"

"Ora, Senhor Presidente, o meu nome não interessa tanto assim, mas, a mensagem que tenho para lhe transmitir... "

"E da parte de quem, se me é lícito perguntar? Já vejo que deve ser o Principezinho que me foi acabado de anunciar, mas, pelo que vejo, no seu reino, não se faz a mínima ideia do que seja o protocolo...."

"Protocolo? Realmente não sei do que se trata, o que também se explica, Senhor Presidente, porque o o lugar de onde eu sou originário é tão insignificante que só tem lugar para três embondeiros e uma flor que me dão trabalho mais do que suficiente para estar ocupado o dia todo... na realidade só tenho para mim um momento de descanso e de prazer... o de contemplar o pôr do sol... sem falar na minha flor única que é toda a minha razão de existir"

"Entre entre... você despertou a minha curiosidade, de que raio de planeta você caiu? Porque você só pode ser, absolutamente, de outro mundo! E, isso para mim é uma coisa inédita, pois este mundo também me parece cada vez mais pequeno e aborrecido... diga-me, meu amigo o que posso fazer por si?"

"Bem, Senhor Presidente, como disse há segundos, não sou eu que preciso de algum favor... eu venho apenas trazer-lhe a mensagem de um rei que me nomeou seu embaixador..."

"Embaixador? De que reino? E credenciais onde estão elas para eu o acreditar?"

"Oh, ele nomeou-me muito à pressa, veja bem, Senhor Presidente, eu estava mesmo de partida, tinha mais planetas para visitar, mas ele foi tão persuasivo... gritou-me a sua morada e deu-me uma missão que fui compondo enquanto escorregava pela via láctea, vindo exactamente nesta direcção... não percebi muito bem, afinal, mas creio que ele me disse que o Senhor era a pessoa mais poderosa deste planeta!"

"Isso faz sentido, sim senhor, muito mais do que eu tenho ouvido pelo mundo fora a outros dignitários, com algum fingido sentido de auto-suficiência.... mas tens uma missão vamos a ela, desde já aceito as tuas credenciais invisíveis... aqui para nós o protocolo é uma coisa que só existe para dar emprego a uma data de parasitas do poder que não sabem o que é trabalho duro para vencer na vida..."

"Fico-lhe muito grato pela confiança... realmente compreendo que a primeira coisa a fazer seria acabar com o protocolo... se não houvesse outra coisa mais importante para acabar ..."

"Pois desembuche logo meu rapaz, se o posso chamar assim, nem sequer ainda apertámos a mão.... mas estou a arder de curiosidade, pressinto que pela primeira vez vou ouvir alguma coisa que nunca ouviram as paredes desta sala oval...."

"Pois exactamente, senhor Presidente, porque as paredes têm ouvidos, o que tenho para lhe dizer tem de ser mesmo em segredo... dá-me licença que me sente aqui ao seu lado, neste canto da sua secretária?"

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"O quê? mas esse seu rei é espantoso... quero desde já convidá-lo, imediatamente, a visitar o meu País!"

"Como lhe dei conta, Senhor Presidente, o reino dele é tão pequenino, que se ele saísse, ainda que para uma visita tão honrosa, ficaria tudo ao abandono... e vice-versa... ele não terá nunca espaço para o receber e à sua comitiva.... se eu aceitasse o seu convite e a visita não pudesse realizar-se de quem seria a culpa, a final, sua ou minha?

"Sua com certeza!"

"Claro, Senhor Presidente, e com toda a razão... como o meu rei costuma dizer, "só se pode exigir a uma pessoa o que essa pessoa pode dar... a autoridade baseia-se, antes do mais, no bom senso".

"E eu não esquecerei a sua mensagem... "se um rei ordenar ao seu povo que se deite ao mar , ele revolta-se. Um rei só tem o direito de exigir obediência se as suas ordens forem sensatas."

"Não tenho mais nada que fazer aqui... agora vou-me embora...."

"Ei, onde vai, não pode ir assim... quero que faça parte do me staff.... espere aí..... alô... allô, sim ? Dôbraie útra, gaspadine Prezident? Kak u vas dilá?

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Spassiba, spassiba.... mas você não vai acreditar no que tenho para lhe contar....

"O Principezinho" de Antoine de Saint-Exupéry

O rei do asteróide 325

"O essencial é invisível para os olhos"

Saint-Exupéry

"As coisas verdadeiramente importantes dizem-se com o silêncio"

António Lobo Antunes (VISÃO de 25 a 31 de Maio de 2017)

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