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Encosta-te a mim


É sábado, é Luanda a trabalhar até ao meio dia... alguém deu por isso? Eu pus o casaco para disfarçar o traje de fim de semana sem meias, e lá fui tomar o café com a gentilíssima funcionária que me marcara o encontro matinal num andar bem alto de um dos novos prédios envidraçados que se erguem sem cerimónias por entre os restos arquitectónicos da velha baixa citadina. Olho de cima para aquela aguarela esfumada na manhã de cacimbo e parece que vejo a mesma cidade que eu conheci há quase cem anos. Talvez esteja a exagerar.... Ressoa-me na cabeça a música de Jorge Palma que ontem à noite ouvi na interpretação de um animador local.... "nós já vivemos cem mil anos, talvez eu esteja a exagerar... encosta-te a mim"... O café vai-me sabendo bem, é a primeira coisa que hoje me sabe mesmo bem... e continuo a ouvir mentalmente "Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo, o que não vivi, um dia hei-de inventar contigo..."

A conversa decorre sem sobressaltos nem ansiedades, tudo ficará resolvido segunda-feira, somos todos escravos da internet e do "sistema"... e eu também "sei que não sei, às vezes, entender o teu olhar mas quero-te bem, encosta-te a mim"... Levantamo-nos quase em uníssono, acompanha-me à porta, trocamos um beijo de despedida agradecendo em pensamento o seu sorriso e em silêncio cantarolo afundando-me no elevador de volta à terra... "Encosta-te a mim, desatinamos tantas vezes, vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal". Gosto muito do Jorge Palma.... saio para a luz da rua, e volto a recordar a sua voz queixosa de resistente noutra das suas canções..."enquanto houver estrada pra pra andar, a gente vai continuar, enquanto houver estrada pra andar, enquanto houver ventos e mar, a gente não vai parar..."


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