YESTERDAY
- Onofre Santos
- 8 de jul. de 2017
- 2 min de leitura

"Yesterday, when I was young. So many lovely songs were waiting to be sung. So many wayward pleasures lay in store for me And so much pain my dazzled eyes refused to see...!
Ouvi esta canção ao velho Charles Aznavour, em 1965, no antigo Teatro Monumental de Lisboa e depois em disco muitas vezes... sem nunca pensar nas palavras para lá da melodia.... porque quando se é jovem julga-se que se é para sempre e Shirley Bassey, Dusty Springfield e até Elton Jones a incluíram no seu repertório porque viveram o suficiente para exprimir cantando com a rouquidão da idade e da saudade que ontem - como se fosse há uma eternidade - o gosto pela vida era doce como gotas de chuva molhando-me a língua ou, como como se tudo não fosse mais do que um jogo fugidio entre a brisa nocturna fazendo ondular a pequena e frágil chama de uma vela que dança, dança, dança e nunca se extingue. Aznavour voltou a Lisboa há dias, e eu não fui ouvi-lo porque agora já nem a lua é azul nem cada dia será tão generoso com surpresas... tudo se tornou tão previsível como a consulta ao médico e a leitura de um electrocardiograma cujas linhas não têm a musicalidade de uma qualquer partitura. Custou-me, no entanto, imaginá-lo a cantar solitário, (oque na verdade não aconteceu) mais com o sentimento do que com a voz que "every flame I lit too quickly, quickly died,
The friends I made all seemed somehow to drift away
And only I am left on stage to end the play. "
Contudo, as recordações são sempre traiçoeiras e mais forte do que eu, venceu-me a tentação de sair para a rua, imune ao frio e inabalável ao vento, trauteando para audiência nenhuma, aquele Yesterday apenas para reviver o momento feliz em que recostado na poltrona do teatro me inclinava para a jovem ao meu lado acariciando-lhe a mão numa silenciosa promessa de futuro.... Nesse momento vi aproximar-se como na tela de um velho filme a preto e branco, uma silhueta que me pareceu conhecida, quase familiar, passando por mim no momento em que aconchegava o cachecol deixando-me na ilusão perfeita de um encontro perdido no tempo.... mas, tão real, qu mesmo através das lágrimas lembrei tal como era, o mesmo sorriso radiante e trocista da minha timidez de outrora e de agora.... e, como nada acontece por acaso, emprestando àquela cena uma banda sonora, veram de algum lado os últimos versos da canção... "There are so many songs in me that won't be sung I feel the bitter taste of tears upon my tongue, The time has come for me to pay for yesterday ... when I was young ...
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